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MÁGOA - Um avião em queda livre

Atualizado: 28 de set. de 2023



Já dizia Martha Medeiros, “a carência, a saudade, e a mágoa são quase

desespero. Ambas parecem um avião em queda. A única certeza é que um

dia vai estabilizar”.


Pensando nesta frase, uma memória extremamente angustiante fez minha

respiração quase parar, meus músculos se retraírem e meu coração

disparar. Certa vez, voltando de uma viajem de trabalho no

Kenya/África, após 13h de voo tranquilo, ao avistar as terras

brasileiras pela janela do avião, lembro-me de pensar, “finalmente

estamos chegando”! Confesso, sempre tive medo de voar, pois estamos

literalmente nas mãos de outras pessoas (no caso o piloto e copiloto),

e isto me deixa muito incomodada, como diz meu pai, “se o avião cair,

não temos galhos para nos agarrar. Enfim, lembro-me nitidamente da

sensação de alegria, eforia e cansaço, que segundos depois foram

literalmente engolidas por pânico e medo, graças a duas fortes

turbulências com perda repentina de altitude. Após um pouso também

turbulento, lembro-me de não sentir meu corpo, e algo automático me

movia para fora do avião (sistema simpático agindo). Já com os pés

fora da aeronave, veio um choro incontrolável aliado a perda de força

e sensação de alívio.


Hoje, dois anos passados do ocorrido, comparo o desespero vivido em

menos de 20 minutos a grande parte de minha vida. Por quase 30 anos

vivi em queda livre, em um profundo, enlouquecedor e doloroso

desespero. Mistos de sentimentos imprecisos que se alternavam entre

carência, raiva, ressentimento, medo e culpa, alimentava minhas

atitudes e guiavam-me constantemente a longos períodos de tristeza e

insatisfação.


Com o tempo, acostumei-me a infelicidade, criei camadas, fui pesando

cada vez mais, inverti papéis, escondi sentimentos, transformei minha

história de vida em um conto de fadas ilusório, e então, com o chegar

do mais escuro dos dias, deparei-me comigo mesma pela primeira vez.

Precisei remover camadas, limpar memórias, aceitar minha posição na

família, curar feridas, e principalmente compreender e saber lidar com

meus sentimentos. E então entendi que o verdadeiro sentimento por trás

de anos de infelicidade, era MÁGOA.


A mágoa tem como pano de fundo decepções, ofensas, ressentimentos,

indelicadezas, pode também ser originada por inveja e até desejo. É a

verdadeira ferida aberta que nunca cura. Quando há mágoa, misturam-se

sentimentos, e a raiva, o rancor e a tristeza, aqui coadjuvantes,

assumem o papel de protagonistas, e assim as confusões acontecem,

entorpecem e dificultam a cura.


A raiva costuma ser vista como uma válvula de escape para a mágoa, ou

o resultado dela. Porém, a raiva é uma emoção temporária, é o mais

puro e forte sentimento de desprazer. Já a mágoa é um estado de

espírito desgostoso, angustiante e penetrante, que por vezes dói

fisicamente, causando dor no peito e falta de ar. E um sentimento

oposto a felicidade que pode perdurar anos, causando uma tristeza

contínua, que pode sim transformar-se em uma doença.


E falando em doença, gosto de aliar meus conhecimentos científicos em

biologia, química, física e medicina, com o até então não muito bem

aceitado no meio científico, campo energético corporal. De fato, somos

energia, possuímos um campo energético, além disso, também produzimos

impulsos elétricos, possuímos uma organela (mitocôndria) produtora de

ATP (molécula básica para nossa sobrevivência), desenvolvemos

hormônios e liberamos neurotransmissores, tudo baseado no equilíbrio

entre o sistema nervoso e hormonal, este, responsáveis pelo nosso

humor, defesa e reparo.


De fato, somos uma máquina movida a energia fabricada dentro de

cada uma de nossas células. As membranas celular de um neurônio,

apresentam polos positivos e negativos, e está perfeita harmonia entre

os polos, são responsáveis pela vida. Quando este equilíbrio é

afetado, defeitos aparecem, somatizam-se e transforma-se sim em

doença.


Os desequilíbrios ocorrem por uma via de mão dupla, seu corpo é a sua

via, a mão dupla tem uma via que sinaliza: atitudes – forma pensamento

- somatização – desordens corporais – desordens ao nível local

(órgãos) – desordens a nível celular; e outra via que sinaliza:

desordens metabólicas – desordens em nível local (órgãos) - desordens

corporais e/ou comportamentais. Sendo assim, podemos dizer que você o

que pensa, o que você come e o que você vive.


Vivi desde meus 8 anos, o que chamamos na Constelação Familiar

Sistêmica, de o papel "EU POR VOCÊ", fui mãe de minha mãe e de meu

irmão. Busquei por anos incansavelmente o reconhecimento como filha,

sempre disse sim, dediquei-me a tudo e a todos, menos a mim. Enterrei

minha mãe após 5 anos de luta contra um câncer, e vivi intensamente a

raiva e a carência, não me permitindo o luto. Passei a assumir os

atos, trejeitos e dores de minha mãe, busquei todas as formas de

aproximação com meu pai, todas baseadas na carência, na doação e na

raiva, então, adoeci. Fui diagnosticada com câncer metastático aos 30

anos, e aos 31 tive uma remissão. Tal acontecimento modificou-me

pouco, o suficiente para começar a me observar, mas não mudar.


Existe um ditado que diz, “se não se aprende no amor, aprende-se na

dor”. Infelizmente, a dor mais escura de uma depressão, aliada ao

pânico, me fez parar, me olhar, me sentir, e me buscar. Nesta

caminhada, o entendimento veio com o auxílio, de psicólogos,

psiquiatras, psicoterapeutas e consteladores.


O deparar-se com a verdade, fere, dói, assusta, mas alivia. O simples

entendimento do que causou mágoa, é o primeiro passo para uma

transformação. Olhar-se nos desnuda de dores, emaranhados e

caricaturas, traz leveza, clareza, delicadeza, harmonia e

estabilidade.


Como humanos, nossos sentimentos nos definem e direcionam. Somos

inundados desde a nossa primeira respiração por emoções boas e ruins.

O fato é que este sistema básico, controlado pelos sistemas endócrino

e nervoso, nos faz evoluir, aprender, distinguir, progredir e

entender. Mesmo que da forma mais dolorosa possível, cabe a nós, o

saber olhar, o compreender e o aceitar.


Aceite, entregue e confie, novos sentimentos nos mostram novas direções.





 
 
 

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